segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
A História Sagrada
Conta a história sagrada que pelos anos 44 e 45 de nossa Era, Herodes Agrippa perseguiu e condenou um grupo de amigos de Jesus à morte. Em cumprimento da sentença, o grupo de cristãos foi levado ao mar da Palestina e colocado numa barca, sem remos, sem provisões e sem água. Esta frágil embarcação vinda da Terra Santa chega milagrosamente ao sul da atual França, exatamente no campo romano chamado “L´oppidum Râ”.
Na pequena barca, chegaram Maria Salomé, mãe do apóstolo, o Maior; Maria Jacobé, prima da Virgem Maria e mãe do apóstolo João; Lázaro e suas irmãs Marta e Maria Madalena, Maximino, Sidônio, o cego de Jericó e Virgem Sara Kali, a escrava negra de Maria Jacobé e Maria Salomé.
Conta a tradição que a serva Sara se juntou aos cristãos espontaneamente, pois ela não havia sido condenada, embora tivesse se tornado cristã. Quando a barca avançava mar adentro, Sara suplicou que a levassem. Um milagre a fez chegar até o barco: sobre o manto que Maria Salomé atirou sobre as águas para auxiliá-la, Sara caminhou e alcançou a barca. Muitas outras histórias são contada sobre a origem de Santa Sara. Uma delas diz que Sara era uma abadessa egípcia, moradora de Camargue, que apiedou-se dos santos e ajudou-os a construir o primeiro oratório da região. Outra conta que Sara era uma sacerdotisa celta. Também dizem que ela era uma rainha negra de grande poder.
Tantas versões são explicadas pelo número de colônias das antigas civilizações fenícia, grega, celta e egípcia que até os dias de hoje existem em Camargue. Assim, poetas e escritores passam adiante a história que ouviram de seu próprio povo, eternizando o mistério que envolve Santa Sara e amor dos ciganos por sua verdadeira Rainha.
O Mistério dos Mantos de Santa Sara
Todos os dias 24 de maio, uma grande multidão de ciganos de todas as partes do mundo, se reúnem na cidadezinha francesa de Saintes-Maries-de-la Mer, às margens do Mediterrâneo, para louvar sua rainha e protetora. Sara, a Negra ou a Kali, é levada pelas ruas da cidade, coberta de mantos de diversas cores, ao som dos violinos e das alegres músicas ciganas. Com ela chegam ao Mar e entram na água para recordar sua história.
Os mantos de Santa Sara escondem sua verdadeira forma. As mãos livres estendidas para frente, lembra que ela, Sara, está sempre disposta a amparar-nos, um vestido azulado que se abre e se funde com com as águas do mar, como se tivesse caminhando sobre as águas.
Oferecer um manto a Santa Sara faz parte de seu culto. Os mantos são para agradecer uma graça alcançada e os ciganos relacionam as cores ao benefícios de cada uma delas.
Conheça você também esta relação mística das cores dos principais mantos de Virgem Sara.
Branco - Paz de espírito. Casamento. Agradecimento.
Azul - Proteção. Luz espiritual. Poder intuitivo. Filhos.
Rosa - Amor. Compaixão. Maternidade.
Verde - Saúde. Agradecimento por bens adquiridos. Vitalidade.
Lilás - Carinho. Amor correspondido.
Púrpura - Agradecimento por prestígio e vantagens profissionais.
Amarelo ou dourado - Louvores. Agradecimento por vitórias alcançadas.
Prateado - Para atrair benefícios através dos anjos e santos.
Conheça a proteção de Virgem Sara
Oração
Milagroso Canto à Santa Sara
Farol do meu caminho!
Facho de Luz!
Paz!
Manto protetor! Suave conforto!
Amor! Hino de alegria!
Abertura dos meus caminhos!
Harmonia!
Livra-me dos cortes!
Afasta-me das perdas!
Dai-me a sorte!
Faz da minha vida um hino de alegria!
E aos teus pés me coloco, minha Sara,
Minha Virgem Cigana!
Toma-me como oferenda e me faz de flor profana o mais puro lírio
que orna e traz bons presságios à Tenda.
Salve, Virgem Sara! Salve, Virgem Sara! Salve, Virgem Sara!
*Reza-se o Milagroso Canto a Virgem Sara durante 9 dias seguidos, com uma vela prateada acesa para cada dia., na mão direita, depois disso, coloca-se num castiçal. Esta oração foi ensinada por Antor, sábio cigano e amigo e está sendo distribuída em Saintes-Maries-de-la-Mer, único santuário da santa.
A IMAGEM DE VIRGEM SARA
A imagem peregrina de Virgem Sara foi esculpida pela artista plástica Flory Menezes, a pedido de Myriam Correa e, posteriormente oferecida a Sibyla Rudana. A réplica da escultura da Virgem Sara, é fiel à original que se encontra no Museu Cigano de Saintes-Maries-de-la-Mer, sendo então a primeira escultura da Santa conhecida em toda a Europa. A réplica brasileira foi levada a cripta de Saintes-Maries-de-la-Mer onde foi consagrada.
Santa Sara é a mãe, rainha e padroeira de todos os ciganos do mundo. Seu santuário está localizado na Igreja de Notre Dame de La Mer, na cidade provençal de Saintes-Marie-de-la-Mer, sul da França, numa cripta, localizada sob o altar-mór da igreja-fortaleza. A imagem da Virgem Negra tem os braços estendidos ao longo do corpo e já foi substituída algumas vezes. Todos os anos, ciganos de todas as partes do mundo peregrinam até a pequena cidade, às margens do Mar Mediterrâneo, para louvar Virgem Sara, numa festa emocionante. Conheça o poder de Santa Sara e uma oração autêntica rezada em sue santuário francês, para evocá-la.
Conta a lenda que Maria Madalena, Maria Jacobé, Maria Salomé, José de Arimatéia e Trofino, junto com Sarah, uma cigana escrava, foram atirados ao mar pelos judeus, numa barca sem remos e sem provisões. Milagrosamente a barca, sem rumo, atravessou o oceano e aportou em Petit-Rhône, hoje a nossa tão querida Saintes Marie’ deLa Mer, França. (que seria as santas marias do mar).
Kali em romanês, quer dizer negra; e Sara, por ser uma cigana egípcia, possui a tez bem morena. Daí o nome. Os ciganos brasileiros adoram Nossa Senhora de Aparecida, talvez por causa de sua cor, e muitos a equiparam à Santa Sara Kali. Se não têm a imagem dela, por ser difícil encontrá-la, por certo possui em sua Thiera (barraca) ou casa uma imagem de Nossa Senhora de Aparecida. Às vezes têm as duas.
É costume festejarmos nossas slavas (promessas ou comemorações em homenagem a algum santo). A Slava de Sara Kali é nos dias 24 de maio.
A Salva de Nossa Senhora de Aparecida coincide com a comemoração dos gadjés, a 12 de outubro.
Na Slava, é oferecido um banquete ao santo homenageado, onde colocamos o Santo do Dia no centro da mesa, em lugar de destaque e junto a Ele, um manrô (pão) redondo, que é furado no meio e onde colocamos um punhado de sal junto com a vela. Esse pão é posto em uma bandeja cheia de arroz cru, para chamar saúde e prosperidade e, ao término do almoço, ele é dividido entre os convidados pelos donos da casa, junto com essas palavras de bençãos:
(Que você seja abençoado com o sal, com o pão e com ouro).
A festa de Santa Sarah
No final de maio, os Ciganos aos milhares, vão se reunindo na cidade de Les Saintes Maries' de la Mer, na região de Camargue ao sul da França para cantar, dançar e pagar promessas para a sua santa padroeira .
É em parte uma reunião, parte festival e parte peregrinação. Assim fique de olho na sua carteira, perca suas inibições e fique pronto para uma de "livre para tudo".
Enquanto as crenças espirituais ciganas são pagãs de natureza, a maioria dos ciganos foram batizados e respeitam a parte essencial da religião cristã.
Eles vem para Les Saintes Maries’de la Mer ("as santas marias do mar’) porque a lenda diz que Maria Jacob e Maria Salomé, (parentes próximas de Jesus, da Virgem Maria, e uma delas mãe dos apóstolos João e Tiago) vieram para esta cidade de barco, quando foram expulsas da Judéia no século primeiro. Elas converteram o povo da cidade para o cristianismo, com a ajuda da líder matriarca da cidade, chamada Sarah. Os ciganos a adotaram como padroeira, embora ela não seja oficialmente reconhecida pela Igreja.
O centro da reunião é a igreja matriz de Les Saintes Maries’de la Mer, onde as relíquias (como os ossos dos santos ) são guardados na igreja.
Os ossos são cerimoniosamente abaixados por polias e guindastes enquanto os fieis cantam acompanhados de violinos e sinos.
Então as relíquias são carregadas para o mar, junto com uma grande estátua de Santa Sarah, de modo que ela pode "esperar" a chegada das Marias. No dia seguinte as estátuas de Maria Jacob e Maria Salomé são colocadas junto ao oceano, pelos peregrinos, em sinal que elas chegaram as praias da França.
A bordo de um tradicional barco de pesca o bispo abençoa o mar, a terra e os Ciganos.
Diz a tradição que o bom Rei Renê mandou escavar a igreja, em 1448 eles relataram que foram encontraram dois corpos docemente perfumados. Muitos anos mais tarde esses corpos femininos foram datados como sendo do primeiro século(pode ser verdade ou apenas lenda). Outra lenda diz que as pedras onde os corpos estavam sepultados eram na verdade "pedras milagrosas" e eram usadas para curar olhos doentes e mulheres estéreis.
Não deixe de ver na cripta debaixo da igreja se você necessita de alguma cura.
A História Sagrada
Conta a história sagrada que pelos anos 44 e 45 de nossa Era, Herodes Agrippa perseguiu e condenou um grupo de amigos de Jesus à morte. Em cumprimento da sentença, o grupo de cristãos foi levado ao mar da Palestina e colocado numa barca, sem remos, sem provisões e sem água. Esta frágil embarcação vinda da Terra Santa chega milagrosamente ao sul da atual França, exatamente no campo romano chamado “L´oppidum Râ”.
Na pequena barca, chegaram Maria Salomé, mãe do apóstolo, o Maior; Maria Jacobé, prima da Virgem Maria e mãe do apóstolo João; Lázaro e suas irmãs Marta e Maria Madalena, Maximino, Sidônio, o cego de Jericó e Virgem Sara Kali, a escrava negra de Maria Jacobé e Maria Salomé.
Conta a tradição que a serva Sara se juntou aos cristãos espontaneamente, pois ela não havia sido condenada, embora tivesse se tornado cristã. Quando a barca avançava mar adentro, Sara suplicou que a levassem. Um milagre a fez chegar até o barco: sobre o manto que Maria Salomé atirou sobre as águas para auxiliá-la, Sara caminhou e alcançou a barca. Muitas outras histórias são contada sobre a origem de Santa Sara. Uma delas diz que Sara era uma abadessa egípcia, moradora de Camargue, que apiedou-se dos santos e ajudou-os a construir o primeiro oratório da região. Outra conta que Sara era uma sacerdotisa celta. Também dizem que ela era uma rainha negra de grande poder.
Tantas versões são explicadas pelo número de colônias das antigas civilizações fenícia, grega, celta e egípcia que até os dias de hoje existem em Camargue. Assim, poetas e escritores passam adiante a história que ouviram de seu próprio povo, eternizando o mistério que envolve Santa Sara e amor dos ciganos por sua verdadeira Rainha.
O Mistério dos Mantos de Santa Sara
Todos os dias 24 de maio, uma grande multidão de ciganos de todas as partes do mundo, se reúnem na cidadezinha francesa de Saintes-Maries-de-la Mer, às margens do Mediterrâneo, para louvar sua rainha e protetora. Sara, a Negra ou a Kali, é levada pelas ruas da cidade, coberta de mantos de diversas cores, ao som dos violinos e das alegres músicas ciganas. Com ela chegam ao Mar e entram na água para recordar sua história.
Os mantos de Santa Sara escondem sua verdadeira forma. As mãos livres estendidas para frente, lembra que ela, Sara, está sempre disposta a amparar-nos, um vestido azulado que se abre e se funde com com as águas do mar, como se tivesse caminhando sobre as águas.
Oferecer um manto a Santa Sara faz parte de seu culto. Os mantos são para agradecer uma graça alcançada e os ciganos relacionam as cores ao benefícios de cada uma delas.
Conheça você também esta relação mística das cores dos principais mantos de Virgem Sara.
Branco - Paz de espírito. Casamento. Agradecimento.
Azul - Proteção. Luz espiritual. Poder intuitivo. Filhos.
Rosa - Amor. Compaixão. Maternidade.
Verde - Saúde. Agradecimento por bens adquiridos. Vitalidade.
Lilás - Carinho. Amor correspondido.
Púrpura - Agradecimento por prestígio e vantagens profissionais.
Amarelo ou dourado - Louvores. Agradecimento por vitórias alcançadas.
Prateado - Para atrair benefícios através dos anjos e santos.
Conheça a proteção de Virgem Sara
Oração
Milagroso Canto à Santa Sara
Farol do meu caminho!
Facho de Luz!
Paz!
Manto protetor! Suave conforto!
Amor! Hino de alegria!
Abertura dos meus caminhos!
Harmonia!
Livra-me dos cortes!
Afasta-me das perdas!
Dai-me a sorte!
Faz da minha vida um hino de alegria!
E aos teus pés me coloco, minha Sara,
Minha Virgem Cigana!
Toma-me como oferenda e me faz de flor profana o mais puro lírio
que orna e traz bons presságios à Tenda.
Salve, Virgem Sara! Salve, Virgem Sara! Salve, Virgem Sara!
*Reza-se o Milagroso Canto a Virgem Sara durante 9 dias seguidos, com uma vela prateada acesa para cada dia., na mão direita, depois disso, coloca-se num castiçal. Esta oração foi ensinada por Antor, sábio cigano e amigo e está sendo distribuída em Saintes-Maries-de-la-Mer, único santuário da santa.
A IMAGEM DE VIRGEM SARA
A imagem peregrina de Virgem Sara foi esculpida pela artista plástica Flory Menezes, a pedido de Myriam Correa e, posteriormente oferecida a Sibyla Rudana. A réplica da escultura da Virgem Sara, é fiel à original que se encontra no Museu Cigano de Saintes-Maries-de-la-Mer, sendo então a primeira escultura da Santa conhecida em toda a Europa. A réplica brasileira foi levada a cripta de Saintes-Maries-de-la-Mer onde foi consagrada.
FILHOS DO SOL E DA LUA, IRMÃOS DO VENTO, OS ETERNOS E MISTERIOSOS CIGANOS.
Com suas saias rodadas, de ramagens coloridas de vermelho e amarelo, com suas pulseiras e brincos de ouro, seus Talismãs de meias-luas de prata, seus berloques de marfim de lápis-lazúli, correntes de moedas douradas no pescoço, tranças com fitas, lenços e medalhões, as ciganas caminharam por todo o Sind. Fugiam da expansão dos árabes da Índia. Os homens levavam os ídolos, os cantos védicos, os cães e as cabras. Chegaram ao Punjab, outra parte da Índia. Lá, de Chandigarh fugiram para o Afeganistão. Cansados e famintos, armaram suas tendas, acenderam suas fogueiras nas terras do Afeganistão, mas mal sabiam que lá também não poderiam ficar. No ano seguinte estavam na Armênia, depois por toda a Ásia Menor afora, entrando na Europa pela Grécia. Hoje, espalhados por quase todo o mundo, estes descendentes dos hindus, agora chamados ciganos, não conhecem estas histórias e suas tradições. Desde a peregrinação no ano 800, lá do velho Sind, até agora, esta gente conheceu quase toda a Europa. Lembramse, em suas conversas à noite, entre canções dolentes, de que seus bisavós falavam dos tempos da Valáquia, da Moldávia e da querida Hungria, onde chegaram em
1417. Até hoje cantam em seus bródios cantigas húngaras. Relembram as terras germânicas onde chegaram em 1418 e das farras nas feiras em Paris lá pelos idos de 1419. Outros, dando risadas, falam de seus “maiores”que viveram na Catalunha, terra por demais amada pelos zíngaros. Lá vivem milhares deles ainda hoje. Lá cuidam e amam a Santa Virgem de Triana, conhecida como La Gitana. Outros, bebendo sifrit, uma mistura de vinho, ervas e cascas de fruta, falam dos teatros que faziam em Évora, em Portugal, seus tetravôs. Sim, pois em Portugal os ciganos foram muito notados e até eternizados por Gil Vicente na Peça “Farsa dos Ciganos”, quando quatro gitanos conversam em mau castelhano com RI Rei D. João III. Para o Brasil eles vieram nos tempos de nossa colonização. Turbulentos, suspicazes, alegres, misteriosos, esses descendentes dos hindus do Punjab e de Sind foram até citados nas “Confissões da Bahia” em 1593. Viveram em Pernambuco, em Salvador, no Rio colonial e agora alguns mais velhos lembram dos tempos em que residiam no Rio, na Praça Tiradentes, onde liam a sorte e vendiam cavalos. Agora, vivendo em todas as partes, continuam a venerar seus santos católicos, seus ícones, Sara, cuja igreja em Chartres é a verdadeira Catedral dos Ciganos, a praguejar em calão e a rir sua risada velha como o mundo. Riso que ainda tem muito das peregrinações ao rio Ganges, ou à cidade santa de Varanasi, riso matreiro de quem dançou as danças de Orissa, fez procissões em Darjeenlin e em Tripura, de quem peregrinou por Paris nas feiras de compras de cavalos, e pelas areias do deserto. Riso de olhos debochados de quem já viu de tudo e que traz em si o sonho de grandeza, de fortuna, de carroças cheias de ouro e jóias e muito, mas muito, da miséria humana, de suas lutas, medos, fantasias e crendices. Riso de caldeireiro, soldador, troçador de baralho, rezador, mentiroso, turbulento, riso que tem em si o segredo de um povo nômade e velho, mistura de árias e hindus, gregos, catalães, portugueses, riso que só o têm esses filhos do Sol e da Lua, irmãos do vento, os eternos e misteriosos ciganos.
COMO O MUNDO CIGANO VEIO ATÉ MIM
universo dos ciganos caiu sobre mim ainda em minha infância. Numa noite de lua cheia havia saído para ir à igreja de Nossa Senhora da Mete, no Catumbi, onde morava, quando na rua do Chichorro ouvi uns cantos alegres, que vinham de uma casa baixa, dessas que tinham um porão e ainda hoje existem nos bairros antigos do Rio. Atraída, fui até lá e olhei pela janelinha do porão. Uma luz azul vinha lá de baixo. Mas pouco pude observar porque eles deixaram a janelinha com uma cortina de morim vermelha fechando o local aos curiosos. Mas a música me atraía tanto que não pude deixar de ficar ali ouvindo-a e esqueci-me de ir à igreja. Em dado momento vejo alguém me olhando fixamente do outro lado da calçada. Era um velho cigano, chapéu de feltro preto de abas caídas, cabelos brancos compridos e umas roupas de cetim e seda velha. E ele caminhou em minha direção e me mandou entrar na festa – bródio -, assim chamou a tal festinha. Entrei. Compoteiras coloridas tinham doces caseiros, de abóbora, coco, banana, bolos e pães redondos; todos dançavam com lenços de cores e
batiam palmas, pandeiros soavam, violinos também. Um casal estava sentado com flores ao colo recebendo a homenagem de todo o grupo. Eram Artis e Cassandra que se casavam pelas leis ciganas. A seu lado havia um prato quebrado e um lençol manchado de sangue. Na época não entendi que aquele costume chamava-se gade, cerimônia característica do ritual de casamento cigano no Brasil. Consiste no seguinte: à meia-noite retiravam-se todos para um lado da sala, adiantando-se os noivos e as duas madrinhas. As violas e as canções vibram. Cada vez o som fica mais forte. Sobre um móvel são colocados cinco lençóis alvos e perfumados com alfazema, salpicados de flores. Quatro velas acesas encostadas a uma mesa derramam sobre os lençóis uma luz âmbar de ouro. As janelas fecham-se. Então o rito sagrado da gade se cumpre. Os padrinhos, também quatro, desdobram os lençóis e passam as velas por eles e entregam aos noivos. O som fica mais forte e o casal se une no quartinho ao lado da sala de festa. Consumado o ato de amor, as madrinhas tomam os lençóis e mostram a todos. As rosas da pureza da cigana são recebidas com alaridos. E a festa continua, com seus doces, suas danças, até que o casal vem e senta-se em cadeiras bem à frente de todos recebendo a homenagem da tribo. Naquele dia não presenciei a cerimônia, mas em outras vezes a assisti. Contudo, naquela noite o som dos violinos, dos pandeiros, das palmas e da alegria cigana entraram para sempre em meu mundo trazendo lembranças guardadas em mim sem que eu mesma soubesse. Na sala onde estava vi também umas imagens de santas, diferentes das que eu via nas igrejas. Eram Santa Sara, a protetora de todo o povo zíngaro, Maria
Madalena, Maria Salomé e Maria Jacobé, as três Marias do Mar, a quem os ciganos rendem homenagem na Provença. Havia também uma imagem de Santana a quem eles chamam de “Cigana Velha” e da Virgem de Triana, ou La Gitana. E num canto, um São Sebastião, santo que os gadjés aprenderam a amar em Portugal. Lamparinas iluminavam a mesa das imagens e alguns potes coloridos com perfumes exóticos. Havia também talismãs dourados, baralhos esquisitos e moedas. Guardei bem na memória essas coisas. Hoje revelarei a vocês todo o significado dessas peças, além de mostrar pela primeira vez em livro o universo dos ciganos, a magia e a astrologia dessa gente diferente e estranha.
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