terça-feira, 5 de janeiro de 2010
HISTÓRIA DOS RITOS DE MÊMPHIS-MISRAÏM
Historicamente, esta Obediência Maçônica, que comemorou seu bicentenário em 1988, originou-se quando dois ritos - o de Mêmphis e o de Misraïm - foram fundidos em 1881, por Giuseppi Garibaldi, que se tornou o seu primeiro Grão-Mestre. O Rito de Misraïm tinha sido fundado em Veneza, em 1788. Sua filiação veio através de Cagliostro que lhe confiou o grau mais baixo (primeiro) da Grande Loja da Inglaterra e os mais altos, da Maçonaria Templária alemã. O Rito de Memphis foi constituído em Montauban, em 1815, por maçons que tinham tomado parte na campanha do Egito, com Napoleão Bonaparte, em 1799. A esses dois ritos foram acrescentados graus iniciáticos que vieram de obediências esotéricas do Séc. XVIII: o Rito Primitivo, o Rito dos Philadelphos, etc.
Durante o Séc. XIX, os Carbonários recrutaram membros nas Lojas Misraïm e Memphis. Eles tinham numerosas lojas na França e alguns de seus dignitários foram pessoas influentes, como o Duque Decazeo e o Conde Muraire, ambos Grandes Comendadores do Rito Escocês.
Na França, a obediência é o local de encontro dos maçons que compartilham uma atração por esoterismo, hermeticismo, simbolismo, etc. Há cerca de 90 lojas, na França, sem contar as oficinas dos graus elevados. Nestas oficinas há algumas centenas de membros, entre os quais se encontram maçons de todas as obediências que são mais qualificados no campo do esoterismo. Alguns são, mesmo, membros da administração de outras organizações ainda mais secretas.
O Rito de Memphis-Misraïm perpetua a tradição de adesão aos princípios de tolerância e liberdade de pensamento, que o tornaram o refúgio e local de recrutamento dos Carbonários durante o Reino do Terror Branco, no Séc. XIX.
O RITO DE MISRAÏM
A primeira menção ao Rito ocorreu em Veneza, em 1788, quando um grupo de socinianos (uma seita Protestante antitrinitarista), solicitou a patente de uma constituição a Cagliostro, que estava, então, em Trieste (ele veio a Veneza e ficou por seis semanas). Eles não queriam participar dos seus rituais mágico-cabalísticos; por isso, eles escolheram o Rito Templário para trabalhar.
Portanto, Cagliostro conferiu-lhes sua única Luz Maçônica. Ele tinha os primeiros três graus da Maçonaria Inglesa e os graus superiores da Maçonaria Alemã, que era fortemente influenciada pela tradição templária. O nome Misraïm é o plural de egípcio, que é a única reminiscência deste rito egípcio que deu sua personalidade como obediência. Ele se espalhou rapidamente para Milão, Gênova, Nápoles e apareceu na França, com Michel Bedarride, que recebera o Grão Mestrado (poderes máximos) em 1810, em Nápoles, de B. DeLasalle. De 1810 a 1813, os três irmãos Bedarride desenvolveram com sucesso o rito na França, quase sob a proteção do Rito Escocês. Realmente, ele contou com ilustres maçons na sua administração: o Conde de Muraire, Soberano Grande Comendador do Rito Escocês Antigo e Aceito; o Duque de Decazeo; o Duque de Saxe-Weimar; o Duque de Leicester; o Tenente-General de Teste, etc.
Durante o Reino do Terror Branco, o Rito de Misraïm se tornou a obediência que transmitia o terceiro grau exigido aos Carbonários e esse grupo tinha, então, 22 lojas em Paris, 6 em Lion, 6 em Metz, 5 em Toulouse, 3 em Bordeaux, 3 em Genebra, 3 em Lausane e 1 em Couriray. A polícia da restauração conseguiu a sua dissolução porque ele era anticlerical e anti-realeza ferrenho. Depois de estar na clandestinidade por 18 anos, ele foi restaurado em 1838 e novamente dissolvido em 1841. Novamente emergindo dos subterrâneos em 1848, o Rito de Misraïm evoluiu até fundir-se com o Rito de Memphis, em 1881, o que foi uma realização de Garibaldi.
O Rito de Mêmphis
A maioria dos membros que acompanharam Napoleão Bonaparte na Campanha do Egito eram maçons pertencentes aos antigos ritos iniciáticos: Philaletes, Irmãos Africanos, o Rito Primitivo, e todos eram maçons do Grande Oriente de França. Tendo descoberto, no Cairo, um remanescente hermético-gnóstico e, no Líbano, a Maçonaria Drusa, que Gérard de Nerval também havia encontrado, e que remontavam à maçonaria operativa que acompanhou seus protetores, os Templários, os Irmãos da Campanha do Egito decidiram renunciar à sua filiação à Grande Loja da Inglaterra e recomeçar com um novo rito que nada ficaria a dever à Inglaterra, que era, à época, o inimigo número 1. Assim nasceu o Rito de Memphis, em 1815, em Montauban, sob a direção de Samuel Harris e Marconis de Négre.
Quando o Rito de Misraïm reagrupou os Jacobitas, que estavam nostálgicos da República, e os Carbonários, o Rito de Memphis reagrupou, rapidamente, os semi-retirados do ex- grande exército e os bonapartistas fiéis à Águia. Além disso, os dois ritos tinham o mesmo Grão Mestre, em 1816, um prelúdio à futura fusão. Mas o Grande Oriente era monarquista na sua maioria, o seu selo ostentava a Flor-de-Lis e teve sucesso na dissolução do Rito de Memphis. Entretanto, isso não durou muito e, em 1826 este rito retomou seu trabalho novamente, dentro do mesmo Grande Oriente. Dissolvido em 1841, tal como o de Misraïm, o Rito de Memphis se tornou clandestino e voltou dos subterrâneos apenas em 1848, com o advento da república. Dissolvido novamente em 1850, foi reativado em 1853, unindo-se ao Grande Oriente em 1862, obrigado a isso por uma decisão do Príncipe-Presidente. Com numerosas lojas no exterior, ele tinha pessoas ilustres em seus quadros, tais como Louis Blanc e Garibaldi, que logo se tornaria o unificador dos ritos de Memphis e Misraïm.
O Rito de Memphis-Misraïm
Os ritos de Memphis e Misraïm, até 1881, seguiram caminhos paralelos e até concordantes, no mesmo clima particular. De fato, ambos os ritos começaram a reagrupar maçons do Grande Oriente de França e do Rito Escocês Antigo e Aceito que estavam interessados em estudos do simbolismo esotérico maçônico: Gnose, Cabala e, até mesmo, hermetismo e ocultismo. Agora, esses dois ritos herdaram eram os depositários das antigas obediências iniciáticas do Séc XVIII: o rito de Philatenes, o Rito de Philadelphia, o Rito Primitivo etc., e tudo isso representado, no Rito de Misraïm, por 90 graus e, no de Memphis, por 95 graus. Como administrar e utilizar esse conjunto tão heterogêneo? Quando Garibaldi foi indicado como Grão Mestre Internacional ad vitam (os irmãos no exterior não haviam sofrido perseguições políticas como as que ocorreram na França), foi feita uma espécie de classificação não-hierárquica, a princípio, mas que rapidamente assim se tornou. De fato, os 95 graus do Rito de Memphis-Misraïm deveriam ser considerados um ambulatório dos restosdos velhos ritos maçônicos que não eram mais praticados ou o eram muito pouco, e não como uma escala de valores. Além disso, os acordos de 1863, com o Grande Oriente de França e de 1886, com a Grande Loja do Rito Escocês, que se tornaria a Grande Loja da França, falam, apenas, dos clássicos 33 graus (Ritos de Perfeição, seguidos pelo Rito Escocês Antigo e Aceito).
As Oficinas dos graus mais elevados do Rito de Memphis-Misraïm devem trabalhar: o 4.º Grau (Mestre Secreto); o 9.º Grau (Mestre Eleito dos Nove); o 13.º Grau (Real Arco); o 14.º Grau (Grande Eleito da Sagrada Abóbada); 0 18.º Grau (Cavaleiro Rosa-Cruz); o 28.º Grau (Cavaleiro do Sol); o 30.º Grau (Cavaleiro de Kadosh); o 32.º Grau (Príncipe do Real Segredo) e o 33.º Grau (Soberano Grande Inspetor Geral). O 66.º Grau (Patriarca Grande Consagrador) somente é conferido a alguns Irmãos que poderiam ser convocados como Consagradores, e uma certa preparação é exigida. Alguns o compararam a uma Consagração Episcopal. Os Graus 87, 88, 89 e 90 englobam o que os livros mencionam como Arcana Arcanorum (os Arcanos dos Arcanos). Os que são admitidos até o Grau 95 se convertem em protetores e conservadores do Rito, como o seu nome indica: Patriarca Grande conservador. É entre eles que o Grão Mestre Internacional escolhe os membros que servirão no Soberano Santuário Internacional, corpo giovernante supremo do Rito.
Além disso, os graus 66, 90 e 95 podem ser conferidos a Maçons como recompensa pelo seu valor, seus conhecimentos e sua fidelidade; o Grau 95 lhes confere o direito de ter assento no Conselho de Sábios, na sua qualidade de Grande Conservador do Rito.
Outros graus, tais como o Real Arco, não são obrigatórios e são deixados à escolha dos Irmãos. A sagração como cavaleiro é transmitida a alguns Irmãos com o Grau 20 (Cavaleiro Templário ou Cavaleiro do Templo), derivados diretamente da Antiga e Estrita Observância Templária e dos Cavaleiros Beneficentes da Cidade Sagrada de Jean-Baptiste Willermoz.
As lojas do Rito de Memphis-Misraïm trabalham no Rito Egípcio. Sobre os seus altares, eles acrescentam, ao compasso e esquadro, a régua, símbolo do Grande Arquiteto do Universo e da Divina Lei. Esse rito deu origem ao chamado rito Francês ou Moderno, também utilizado em algumas lojas do rito Mênphis-Misraïm.
Desde março de 1960, o Presidente do Conselho Nacional eleito assegura a administração de todas as lojas azuis do rito, na França e nos países associados. Em 10 de maio de 1991, a obediência francesa foi admitida no C.L.I.P.S.A.S. (Centre of Liaison and Information of the Masonic Powers – Centro de Ligação e Informação das Potências Maçônicas, signatária da reunião de Estrasburgo), registrando, desta forma, a sua ação ao lado da maçonaria liberal européia.
O Rito de Memphis-Misraïm perpetua a sua tradição de fidelidade aos princípios democráticos a às ciências iniciáticas.
O Rito de Memphis-Misraïm foi trazido ao Brasil em 1989 e se foi estruturando até completar a sua pirâmide em 1996. Ele trabalha como potência independente, em nível nacional e está ligado aos outros países por uma Coordenação Internacional. A Grande Loja Simbólica do Brasil reune lojas masculinas, femininas e mistas. Ela se filia ao Soberano Santuário do Brasil, que é a potência para todos os graus filosóficos, herméticos e esotéricos. O nome completo do rito é Rito Antigo e Primitivo Memphis-Misraïm. Seus graus são: simbólicos, do 1.º ao 3.º (aprendiz, companheiro e mestre); filosóficos, do 4.º ao 33.º; e herméticos ou esotéricos, do 34.º ao 95.º.
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